17 março 2006

Baba, Kelly Key

de: ‹Autor Desconhecido›
atribuído a: ‹Millôr Fernandes›

Acho que 99% do país já teve o desgosto de ouvir ‘Baba’, hit da temporada, defendido com muita propriedade pela buzanfa cantante da Kelly Key. Quando essa bosta não está tocando no rádio do seu vizinho jeca, do shopping ou do táxi, tem algum mala fazendo o desfavor de lembrar o refrão pra você. É uma daquelas músicas que só podem ser removidas do córtex cerebral cirurgicamente. Uma desgraça mesmo. Kelly é um perfeito protótipo de uma vagaba exemplar.

Mas calma, isso não é ruim. Afinal, milhares e milhares de brasileiras queriam ser como ela, enquanto a mesma proporção de homens queriam ter ela. Sua carreira começou desastrosamente no Samba, Pagode & Cia., aquela porcaria fracassada que passou na Globo. Deve ter durado uns dois programas, eu acho.

Daí, com 15 anos, ela se casou com o Latino, rei do funk melody, que depois tentou enveredar pela lambada e que metade das pessoas só lembra porque ele forjou um seqüestro e a outra metade porque ele tinha um sósia que media uns 15 centímetros e causou um dos momentos mais deprimentes e constrangedores da história da televisão brasileira ao se apresentar no Faustão.

Ele tinha uns dez anos a mais que ela e já estava em final de carreira quando a desposou. Daí, um belo dia, algum executivo tarado de gravadora teve a idéia de a transformar numa cruza de Cristina Aguilera com Britney Spears brazuca. Eu achei que não ia colar, que ela ia mais uma vez penar no limbo do fiasco. Mas eis que ela emplacou esse grude, deixando nossa existência um pouquinho mais miserável. Onde está o Talibã nessas horas?

O que eu não entendo é que, enquanto todas as agências internacionais de inteligência travam batalhas, movendo mundos e fundos contra a pedofilia, esse mal que assola a humanidade e ameaça o direito de escolha de nossas crianças, as pessoas cantam exatamente o contrário! Se prenderam o Planet Hemp por falar de maconha, por que não prendem essa mala? Afinal ela está incitando uma prática ilegal! Porque, como se não bastasse rimar amor com cão, o que já seria passível de pena perpétua inafiançável — ela ainda prega nessa música que o homem que respeita uma menina menor de idade é um otário.

E depois que ela completa a maioridade, quando eles já podem furunfar tranqüilamente sem que o cara seja condenado ao xilindró, aí ela não quer mais e fica tirando onda, se insinuando pro distinto homem sem liberar o material, só pra se vingar. Quer dizer, enquanto o cara é direito, não abusa da menor, ele é um babaca, que só merece o desprezo das mulheres porque agiu, no mínimo, corretamente. Tudo bem que achar uma garota que se mantenha virgem até atingir a maioridade é que nem achar um vendedor da Fórum macho. Quase impossível. Mas daí a condenar publicamente o sujeito que pôs a integridade acima do instinto animal... é tipo arrotar alto na mesa, coisas que você só faz entre amigos, em concursos e em fim de festas...

Detalhe cabuloso: ela fez essa música para o professor de educação física, por quem ela era amarradona quando tinha sete anos! Imagina se o cara entra numa com a pirralha no cio? O pior é se ele não ficou com ninguém, esperando ela desabrochar, e descobriu que ela não só o preteriu pra perder a virgindade com o Latino, como ainda tá ganhando uma baba mostrando como ele foi trouxa pro Brasil inteiro! O nome dessa música tinha que ser braba, que é isso que ela é! Trabalho não mata. Mas vagabundagem...

9 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Olá,
Tem uma tira genial dos malvados sobre isso (textos apócrifos).
No primeiro quadrinho uma pessoa escreve um texto no computador e diz algo assim:
- Maneiro esse texto que escrevi, vou encaminhar com o nome do Saramago.
No segundo uma pessoa recebe e fala:
- Maneiro esse texto do Saramago, vou encaminhar com o meu nome.
Pena que não consegui achar no site (são 700 tiras...)

12:53 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Cora, Carlos Drummont de Andrade escreveu uma crônica para o Jornal do Brasil- ele era cronista do jornal, lá pelos idos de 1980, intitulada: NAMORADO: TER OU NÃO,É
UMA QUESTÃO. Conforme escrevi lá no seu blog, uma das minhas manias é justamete colecionar artigos interessantes e possuo esta crônica recortada, juntamente, com
outros artigos do Drummond. A crônica é muito bonita e extensa.
Não sei se está em algum livro dele ou foi esquecida por aí.
Tentarei escanear para você e posso afiançar: a crônica é um drummond autêntico, tipo aquelas havainas de antigamente que não tem cheiro nem descola. Um abraço.

3:10 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Cora, fiz uma confusão e saiu anônimo. Estou retificando

3:12 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Eis a crônica;
Quem não tem namorado é alguém que tirou férias de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de advinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.
Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento , até paixão é fácil.Mas namorado, mesmo, é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito,mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida, ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou
mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem um amor:é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade.
Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor das mãos dadas;de carinho escondido na hora em que passa o filme;de flor catado no muro e entregue de repente; de poesia de
Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada;
de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete
mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer cesta abraçado, fazer compra junto.Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobriu a criança própria e a do amado e sai com ela
para parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos
ou musicais da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado.
Não tem namorado quem ama sem gostar; que gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto
de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namoraado porque não descobriu que o amor é alegre
e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves
fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repletos de sons de flauta e do céu descesse uma névoa
de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases
sutis e palavras de galenteria.
Se você não tem namorado é porque
ainda não enloqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida
parar e de repente parecer que faz sentido.
Enlou-cresça.

4:00 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Angelina, este texto está em um livro do Artur da Távola (pseudônimo de Paulo Alberto M. Monteiro de Barros)lançado pela Nova Fronteira em 1984. Conseguimos, para a edição do livro, um exemplar do arquivo da editora. Será que você consegue escanear e mandar para o cairnarede@gmail.com?
Grande abraço.

5:03 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Enviei um e-mail com a crônica escaneada( peço mil desculpas porque não saiu muito bom, pois, ainda não sei mexer muito bem com
o scanner). Acho que qualquer dúvida a respeito da autoria da crônica poderia ser melhor esclarecida com uma ida aos arquivos do JB ou,mesmo,tentar contactar o neto do Drummond, o cenógrafo e artista gráfico,Pedro
Drummond, que tinha um website ....
http://www.carlosdrummond.com.br Um abraço

12:39 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Pô, esse texto é atribuído ao Millôr? Quem acreditou nisso não se tocou que o Millôr SABE escrever?

11:10 PM  
Anonymous Anônimo disse...

esse texto é meu e foi feito para o site 02 neuronio. Coitado do millor...

2:58 PM  
Blogger MeNina disse...

Pô, esse texto é atribuído ao Millôr? Quem acreditou nisso não se tocou que o Millôr SABE escrever? [2]

5:48 PM  

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